quinta-feira, 3 de maio de 2007

Mulher - mãe de jornadas


Sabemos que os papéis sociais desempenhados pela mulher foram e são construídos e consolidados através da história, constituindo padrões de comportamento que se modificam de tempos em tempos, em maior ou menor escala. A clássica frase de Beauvoir (conforme citada por Franchetto, Cavalcanti e Heilborn, 1981): "Não se nasce mulher, torna-se mulher", atesta a construção social da identidade feminina no lugar de considerá-la um fruto da natureza. Algumas características femininas, como passividade, emocionalidade, dependência, domesti-cidade e opressão estão presentes de forma universal nas sociedades humanas, mas são contestadas em sua "naturalidade" por Franchetto e cols:
A mulher é assim uma construção social. A realização plena de todas as conseqüências dessa afirmação, que entretanto não é alcançada, implica a nosso ver não só o reconhecimento da possibilidade de transformação, como a percepção de que não existe Mulher, e sim mulheres ( p. 33).
De forma semelhante à mulher, a família sofre a tendência de ser considerada uma instituição natural, existente a priori na natureza, quando na realidade também se constitui culturalmente, sendo uma construção humana mutável. Segundo Durham, "se existisse algum grupo natural na sociedade humana, não seria a família, mas aquele formado por uma mulher e sua prole imatura" (Durham, 1983, p. 20). De fato, segundo Macêdo (2001), nas últimas décadas o padrão tradicional de família da nossa sociedade - marido, mulher e filhos - vem sendo confrontado com inúmeras exceções, como casais de idosos cujos filhos já se casaram e que vivem sós ou agregam-se a outras famílias, repúblicas estudantis formadas por jovens migrantes, famílias matrifocais, compostas pela mãe e seus filhos, em decorrência de vários fatores - viuvez, homens que se deslocam em busca de trabalho, deixando as mulheres como chefes de família, divórcios e a maternidade antes do casamento. Essas exceções, a cada dia mais numerosas, evidenciam a impossibilidade de organização da existência dentro de um único padrão de comportamento.
Com essas transformações sociais e o advento do feminismo as mulheres têm desempenhado papéis diferentes, saindo mais do ambiente doméstico (privado) para o social (público) e assumindo a chefia do lar, muitas vezes tanto afetiva quanto economicamente (Macêdo, 2001). Entretanto, o desempenho desses papéis não se dá de forma tranqüila e sem conflitos, pelo fato de ser, ainda, uma "transgressão"ao antigo modelo de comportamento individual e familiar. Dessa forma, encontra-se muito sujeito aos mecanismos de controle social, como o ridículo, a difamação e o isolamento (Berger, 1986). Não existem novos modelos a serem seguidos.
A verdade é que a sociedade não elaborou novas soluções consensuais para qualquer desses problemas. O que ocorreu foi a abertura de um espaço no qual estão sendo experimentadas novas formas de tentar equilibrar a vida pública e a privada, a participação no mercado de trabalho e na produção doméstica de valores de uso, a liberdade individual e a responsabilidade para com os filhos, a igualdade e a diferenciação de papéis (Durham, 1983, p. 41).

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